A história de Bodrum, outrora Halicarnasso, uma antiga cidade grega na costa sudoeste de Cária, na Ásia Menor, remonta pelo menos ao século XII a.C.
A ocupação humana mais antiga na região, documentada por vestígios arqueológicos, foi na pequena ilha rochosa de Zephyria onde actualmente está o castelo de São Pedro.
Quando a Ordem dos Hospitalários (Cavaleiros de Rodes) chegou ao local, no século XV, para construir esta fortaleza, terá encontrado as ruínas de um castelo mais antigo, construído pelos Dóricos cerca de 1100 a.C..
Heródoto, conhecido como o pai da história, nasceu em Halicarnasso em 484 a.C. e escreveu que Halicarnasso foi fundada pelos Dóricos, vindos de Troezen na costa Este do Peloponeso.
Existem poucas evidências históricas relativamente à fundação de Halicarnasso. A primeira menção conhecida data do século VII a.C., altura em que Halicarnasso terá integrado a Hexápole Dórica, da qual faziam parte mais cinco cidades: Cnido, a ilha de Cós, Lindos, Jaliso e Camiros. Os membros desta federação costumavam organizar um festival com jogos em honra de Apolo no promontório de Tropium, perto de Cnido. Os prémios atribuídos eram troféus de bronze que os vencedores tinham de dedicar no templo de Apolo. Halicarnasso foi excluída da liga, porque um dos seus cidadãos, chamado Agasicles, levou o troféu para casa antes de o dedicar no templo de Apolo. A hexápole passou então a ser a Pentápole Dórica.
Os Dóricos não foram os primeiros povos a habitar esta área. Tiveram de enfrentar os contínuos ataques dos nativos, conhecidos como Cários. Durante um certo período de tempo Dóricos e Cários parecem ter coexistido em paz. No entanto, no século V a.C., Halicarnasso era uma cidade totalmente Jónica. Tanto Heródoto como o seu tio Paniasis, um poeta épico, escreveram em Jónico, e não existe qualquer vestígio do dialecto Dórico em inscrições deste período.
Em 546 a.C. os Persas invadiram as cidades gregas da costa, incluindo Halicarnasso. Uma série de dinastias persas governaram então Halicarnasso, sendo a mais famosa a de Artemísia I, que teve início em 480 a.C.
O filho de Artemísia, Psindalis, sucedeu-lhe como governante de Halicarnasso, assim como da ilha de Cós e de várias outras ilhas.
Relativamente ao reinado de Psindalis, os historiadores pouco têm a dizer. No entanto, o seu filho, Lidamis II, é lembrado como um governante cruel e opressivo. Consta que Heródoto terá abandonado a sua terra natal e terá ido viver para a ilha de Samos, incapaz de tolerar os caprichos deste tirano. Em 1856 o arqueólogo Sir Charles Newton encontrou a inscrição de uma lei promulgada por Lidamis II reveladora da sua total intolerância relativamente a visões políticas divergentes.
Não se sabe quem sucedeu a Lidamis II ou porque razão este tirano terá deixado o poder, mas aconteceram grandes mudanças durante o século IV a.C. Em determinado momento deu-se a libertação do jugo Persa, mas logo depois, um tratado entre Atenas e a Pérsia pôs de novo as cidades da Ásia sob o controlo Persa.
A Pérsia dividiu a região em satrapias, e cerca de 377 a.C., o rei Mausolo foi o sátrapa de Cária e de Halicarnasso. Este terá sido o período mais brilhante de Halicarnasso, quando se tornou a capital do satrapia de Cária, famosa nessa altura pelo seu comércio, navegação e constução de barcos.
Até à chegada de Mausolo, Halicarnasso era uma cidade pequena, mas Mausolo tinha projectos ambiciosos e reconheceu as vantagens naturais da área para fortificação e comércio. Transferiu a capital de Milasa (actual Milas), e construiu grandes linhas de muralha em redor de Halicarnasso. Para povoar a nova área, transferiu os habitantes de seis cidades das imediações. Mausolo taxou pesadamente os seus súbditos para pagar estes e outros projectos de grande escala, e impôs mesmo um imposto a quem usasse o cabelo abaixo dos ombros. Um dos seus projectos permanece como a única estrutura sobrevivente da época Clássica de Bodrum: o teatro.
Localizado na encosta sul do monte Göktepe, este teatro é um dos mais antigos da Anatólia. Apresenta três secções diferentes: um local para o público, um local para a orquestra e o palco. Tornou-se um museu ao ar livre depois das escavações em 1973, e foi utilizado como sala de espectáculos até há quatro anos atrás. Desde essa altura têm estado a ser desenvolvidos trabalhos de restauro, após a descoberta de salas e tunéis do período Helenístico. Tratam-se de três salas de bastidores escavadas na rocha, que perfazem um total de 40 metros quadrados, e dois longos túneis (um com 30 metros e outro com 150), usados pelo público e pelos artistas para se deslocarem por debaixo do teatro. Pensa-se que existem pelo menos mais 10 salas de bastidores sob o teatro. O teatro possui ainda um altar de pedra, utilizado antes das peças para sacrifícios a Dionísio, e vários orifícios em alguns dos assentos, probavelmente para a produção de efeitos de sombras. Permitindo 40 centímetros de intervalo entre cada elemento do público, o teatro tinha capacidade para 13 000 pessoas.
Mausolo morreu em 353 a.C, e foi sucedido pela sua mulher e irmã, Artemísia II que governou durante três anos.Artemísia II continuou a construção de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo: o Túmulo do Rei Mausolo (de onde derivou a palavra mausoléu).
Este mausoléu tinha pelo menos 50 metros de altura, sendo vislumbrado a grande distância a partir do mar. Embora tenha permanecido intacto durante pelo menos 1500 anos, um terramoto arruinou-o por completo. Depois chegou a Ordem dos Hospitalários (Cavaleiros de Rodes), no século XV, e usou o que terá restado do mausoléu para construir o seu castelo, o castelo de São Pedro. A partir de 1846, elementos deste mausoléu foram também levados para o Museu Britânico em Londres e só escassos blocos e bases de coluna permanecem no local original.
É consensual que o mausoléu era composto por quatro partes: uma base sólida encimada por 36 colunas coroadas por uma pirâmide com 24 degraus, e no topo uma carruagem com as estátuas de Mausolo e Artemísia puxada por quatro cavalos. Os quatro lados da estrutura eram decorados com frisos esculpidos pelos mais ilustres artistas daquele tempo.
Para além de ter continuado a construção do mausoléu, Artemísia conseguiu um segundo feito memorável: a captura de Rodes. O povo de Rodes considerava que ser governado por uma mulher Cária era uma afronta. Como tal, tentou derrubá-la. Artemísia soube desse plano e escondeu as suas tropas num porto secreto perto do porto principal. Quando o povo de Rodes aportou e se dirigiu para terra, Artemísia tinha os seus homens a conduzirem os barcos do povo de Rodes de novo para o mar. Os soldados de Rodes foram cercados e abatidos, enquanto que os Cários usaram os seus barcos para navegar em direcção a Rodes. O povo de Rodes, pensando que o seu povo estava a retornar vitorioso, recebeu os soldados inimigos e a sua cidade caiu nas mãos dos Cários.
Sucederam a Artemísia uma série de governantes com muito menor notoriedade.
Alexandre o Grande chegou a Halicarnasso em 334 a.C., quando estava no poder o rei Orontabates, sátrapa de Cária. Halicarnasso era a última hipótese para uma oposição Persa contra Alexandre o Grande no Mar Egeu. Assim sendo, Orontabates tinha reunido uma grande força Persa, reforçada por mercenários Gregos. Consta que ambas as partes lutaram ferozmente, com o povo de Halicarnasso a oferecer uma resistência obstinada. As forças de Alexandre conseguiram finalmente penetrar nas muralhas da cidade e Alexandre ordenou o seu saque e incêndio como punição por tão feroz resistência. No entanto, poupou os habitantes e o mausoléu.
As muralhas de Bodrum são um exemplo extraordinário da arquitectura da Anatólia ocidental. Actualmente só existem algumas partes da muralha original, que tinha cerca de 4,5 quilómetros de extensão.
Uma parte importante da muralha da cidade era a porta de Mindos, uma das duas entradas de Halicarnasso onde os soldados de Alexandre passaram grandes dificuldades para entrarem dentro da cidade. Foi assim denominada por estar voltada para Mindos (actual Gümüslük). De acordo com Arriano, que descreve esta porta e o cerco de Alexandre o Grande em 334 a.C., esta porta tinha originalmente 3 torres (por isso foi descrita como "Tripollion"), e em frente da porta existia um dique de 8 metros de profundidade e 15 metros de comprimento. Não existem vestígios da parte central da porta, mas permanecem as partes laterais.
Quando Alexandre o Grande veio para Halicarnasso no Outono de 334 a.C., atacou primeiro a porta de Milas, que já não existe, mas não foi bem sucedido. Passados alguns dias tentou a Porta de Mindos e de novo encontrou muita resistência. Depois construiu uma ponte de madeira sobre o dique e colocou alguns dos seus soldados em torres de madeira. O povo de Halicarnasso veio para fora, tentou incendiar as torres, começou a lutar e a ponte entrou em colapso. Oronbates e Memnon, o seu aliado Persa, fecharam a porta, foram para o castelo e dirigiram-se para a ilha de Cós a partir do porto de Halicarnasso. Alexandre conquistou então a cidade e destruiu-a, com excepção do mausoléu, e depois prosseguiu para Frígia.
Os cidadãos de Halicarnasso, que tinham sido trazidos de seis diferentes cidades por Mausolo, foram mandados de volta para as suas casas. Orontabates e Memnon ficaram nos castelos em Salmacis e Zephysia, nos extremos orientais e ocidentais do porto principal. Mantiveram estas posições durante cerca de um ano, com o remanescente da sua armada a ocupar Cós. Quando foram derrubados, Alexandre restaurou o poder a Ada, uma antiga satrapia que tinha sido conquistada.
Depois da conquista de Alexandre, Halicarnasso nunca mais retornou ao seu estatuto anterior.
A história é menos detalhada durante um certo tempo, mas sabe-se que no século III a.C. passou a ser controlada por Ptolomeu II do Egipto.
Quando Roma conquistou Halicarnasso em 190 a.C., Halicarnasso passou a ser uma cidade livre. Esta independência durou até 129 a.C., quando Roma incluiu Cária na sua reorganização da Ásia.
Cerca de 400 d.C., com a queda de Roma e o advento do Cristianismo, Halicarnasso passou a ser uma Diocese ligada ao Arcebispado de Afrodisias.
Entretanto o Império Bizantino prosperava com a sua capital Constantinopla (actual Istambul). Os historiadores falam pontualmente de Bodrum até ao século XI, quando os Túrquicos tomaram a região.
Os Bizantinos capturaram Bodrum durante as primeiras cruzadas em 1096, mas os Túrquicos voltaram a conquistá-la três anos depois.
Por volta do final do século XIII, a região conhecida como Cária tornou-se a província de Menteşe e foi anexada ao Império Otomano pelo Sultão Beyazit em 1392.
Entretanto o castelo da Ordem dos Hospitalários em Esmirna (actualmente Izmir) foi destruído pelo líder Mongol Tamerlão em 1402. Em compensação, a Ordem pediu terras ao Sultão Turco Mehmet Celebi. Foi-lhes concedida Halicarnasso, onde construíram um novo castelo e controlaram a cidade (à qual chamaram Mesy) durante um século. Quando chegaram a Halicarnasso deram instruções aos construtores do castelo para removerem todos os materiais da sepultura do rei Mausolo passíveis de serem reutilizados, e a construção do castelo teve início em 1400. A Ordem referia-se à cidade como sendo Mesy, não sabendo que estava em Halicarnasso. A fortaleza tornou-se conhecida como o castelo de São Pedro, o Libertador, e serviu como o único local de refúgio para todos os cristãos na Costa Oeste da Ásia durante as cruzadas. Sob o domínio Turco o castelo teve várias utilizações, nomeadamente uma base militar, uma prisão e um balneário público, albergando actualmente um dos melhores museus da região. Em 1523, Soleimão o Magnífico, expulsou os Hospitalários.
Bodrum sofreu um bombardeamento da armada Russa em 1770 e foi utilizada como base naval Turca durante a revolta Grega em 1824. Durante a Primeira Grande Guerra, o couraçado Francês "Duplex" ardeu em Bodrum. Em 1919 as forças Italianas ocuparam Bodrum, mas o sucesso eminente da Guerra da Independência Turca (1918-1923) fez com que os Italianos retirassem em 1922, e Bodrum finalmente descansou até aos dias de hoje.