27.12.06

O Reino da Lídia


O antigo reino da Lídia emergiu no início do seculo XIII a.C. como um reino “Neo-Hitita”, após o colapso do Império Hitita no século XII a.C. No entanto, foi no início do século VII a.C., após a destruição da Frígia pelos Cimérios, que a Lídia se tornou a nação mais forte a dominar o Oeste da Anatólia.
Quando adquiriu a sua maior extensão, ocupou toda a metade Oeste da Anatólia a Oeste do rio Hális (actual rio Kızılırmak), desde o mar Egeu até aos vales dos rios Hermo e Cayster (actuais rios Gediz e Büyükmenderes),com excepção das terras da Lícia.

Heródoto refere que a denominação Lídia foi herdada do primeiro rei chamado Lydos, que se acreditava descender de Átis e da deusa Frígia Cibele. Esse nome mitológico deu origem ao nome étnico Grego Lydoi e ao Hebreu Lûdîm. Na mitologia Grega, Onfale foi rainha ou princesa da Lídia, casou com Héracles, e deverão ter tido pelo menos um filho. O historiador Grego do século I a.C., Diodorus Siculus (4.31.8), e Ovídio na sua obra "Heroides" (9.54) mencionam um filho chamado Lamos. No entanto, Apolodoro (2.7.8) refere-se ao nome do filho de Héracles e Onfale como sendo Agelaus. Pausânias (2.21.3) atribui-lhe outro nome, mencionando Tyrsenus como filho de Héracles com a "mulher de Lídia". Heródoto (1.7) refere nas suas "Histórias" uma dinastia Heráclida de reis que governaram a Lídia, e que talvez não descendessem de Onfale: "os Héraclidas, descendentes de Héracles e da escrava de Iardanus". Para Heródoto, o primeiro dos Heráclidas a governar a Lídia terá sido Agron, filho de Ninus, que por sua vez seria filho de Belus, que seria filho de Agelaus, filho de Héracles. Segundo Heródoto, os "filhos de Héracles" fundaram uma dinastia que permaneceu no poder durante "505 anos, filho a suceder pai de geração em geração até ao tempo de Candaules" (de cerca de 1185 a.C. a cerca de 680 a.C.). Mais tarde, alguns historiadores ignoraram a declaração de Heródoto, dizendo que Agron foi o primeiro rei da Lídia, e incluíram Alcaeus, Belus e Ninus também na lista de reis da Lídia. Estrabão (5.2.2) considerou Átis, pai de Lydus e Tyrrhenusi, como um dos descendentes de Héracles e Onfale. Este dado oferece várias dúvidas, uma vez que todos os outros relatos colocam Átis, Lydus e Tyrrhenus como irmãos e reis da dinastia pré-Heráclida da Lídia.

As fronteiras do reino da Lídia mudaram ao longo dos séculos, sendo inicialmente limitado pelos reinos da Mísia, Cária, Frígia e Iónia. Tornou-se mais poderoso sob a Dinastia Mérmnada, que teve início cerca de 685 a.C.. No século VI a.C., durante o reinado do rei Creso, Lídia atingiu o seu maior esplendor, com as conquistas Lídias a transformarem o reinado num império, que controlava todo o Oeste da Ásia Menor, com excepção da Lícia. A partir dessa altura, Lídia nunca mais voltou às suas dimensões originais. No entanto, o império terminou quando o Rei Persa Ciro II, O Grande conquistou Sardes cerca de 546 a.C. e incorporou Lídia no Império Persa. Nessa altura, o rio Maender correspondia ao seu limite a Sul. Depois de Alexandre, O Grande, Rei da Macedónia, ter derrotado a Pérsia, Lídia passou para o controle Greco-Macedónio em 334 a.C.. A partir dessa altura os Lídios foram assimilados pelos Gregos, pela língua Grega e pela Cultura Grega. Em 133 a.C. Lídia passou a fazer parte da província Romana da Ásia. Sob o domínio de Roma, Lídia abarcou a área entre a Mísia e a Cária por um lado, e a Frígia e o Mar Egeu por outro.

A capital do reino da Lídia foi a cidade de Sardes (actual Sart, na província Turca de Manisa), localizada a Nordeste de Esmirna (Izmir), no cruzamento das principais estradas que ligavam Éfeso, Esmirna e Pérgamo às terras altas da Ásia Menor. Foi fundada estrategicamente num esporão, no sopé do Monte Tmolo (actual Monte Boz), dominando a planície central do vale Hermo, a cerca de 34 quilómetros a Sul do rio Hermo, e constituindo o limite Ocidental da Estrada Real Persa. Atingiu a sua maior prosperidade durante o reinado de Creso (560-546 a.C.), e depois da conquista Persa em 546 a.C. tornou-se a capital Oeste desse Império. Com a sua conquista por Alexandre, O Grande em 334 a.C., o seu império foi dividido em vários reinos, e Sardes passou a integrar o Império Selêucida. Depois passou a fazer parte do Império Romano, tornando-se sede de um procônsul. Em seguida foi capital da província da Lídia, após as reformas administrativas de Diocleciano e durante o Império Bizantino. A importância da cidade deveu-se ao seu poderio militar, à sua localização geográfica numa importante via que ligava o Egeu ao interior, ao vale fértil do rio Hermo, e à riqueza em ouro e prata do rio Hermo e do seu afluente Pactolo. A abundância de ouro em torno de Sardes era explicada com uma lenda: o lendário rei Midas terá sido recompensado pelo Deus Dionísio, e tudo aquilo em que tocava era transformado em ouro. No entanto, como esse poder também surtia efeito na sua comida, o rei Midas pediu para ser libertado desses poderes. Dionísio pediu-lhe então para lavar as mãos no rio Pactolo, e dessa forma o rei Midas perdeu os seus poderes, libertando ouro para o rio Pactolo. O facto de Sardes ser uma cidade muito bela e rica, especialmente no reinado de Creso, contribuiu para o surgimento de várias lendas. Sardes possuía edifícios monumentais, os mais antigos datados do século IV a.C.. O Templo de Ártemis, a Casa da Moeda, uma caldeira de fundição de ouro, fileiras de lojas comerciais, um complexo de termas e ginásio, uma grande sinagoga, para além da muralha da cidade e do cemitério real de Bin Tepe, são exemplos da monumentalidade e riqueza de Sardes. Foi igualmente um dos pólos do Cristianismo nos seus primórdios, e o local de uma das Sete Igrejas da Ásia mencionadas no Livro do Apocalipse (Ap. 3:1-6). Sardes foi destruída pelo conquistador Mongol Tamerlão O Grande (1336-1405) em 1402.

O reino da Lídia era conhecido pelos solos fertéis, pelos ricos depósitos de ouro e de prata, e pela sua magnífica capital, Sardes. Um aspecto que reveste Lídia de um papel relevante na história da humanidade, é o facto de ter sido o aí que se cunhou a primeira moeda da história das civilizações. Segundo Heródoto, os Lídios foram os primeiros a introduzir a moeda de ouro e prata, e os primeiros a estabelecer lojas permanentes de venda a retalho. O rio Hermo possuía muitos atributos, um dos quais era o alto teor de ouro e prata no seu leito, oferecendo uma liga natural denominada electrum. O electrum foi o primeiro metal a ser usado com a finalidade de cunhar moedas. A pele de carneiro era utilizada para filtrar a água do rio, com o objectivo de reter os grãos de ouro e prata. Esse processo arcaico, deu origem à lenda dos argonautas, que viajavam pelo Mediterrâneo para encontrarem o "Tosão de Ouro". Os nomes dos primeiros gravadores de moedas são desconhecidos, perderam-se no tempo, mas evidências arqueológicas confirmaram o nome do rei Aliates II da Lídia, que governou entre 619 e 560 a.C., como a primeira autoridade a emitir moedas com monograma, representando o governo de um estado. Com a introdução do uso da moeda, os Lídios operaram uma grande revolução comercial, e tiveram igualmente grande influência na Civilização Grega a partir do século VI a.C..

Em meados do seculo VI a.C., o Rei Creso, último rei da dinastia dos Mérmnadas e último rei da Lídia (560-546 a.C.), herdou do seu pai, Aliates II, um vasto império que incluía todo o Oeste da Anatólia até ao rio Hális. Conquistou depois Éfeso, incorporando no seu império as cidades gregas do litoral do mar Egeu, com as quais estabeleceu laços de amizade e alianças, para tirar benefício da próspera actividade comercial da região. O rei Creso, estabeleceu a primeira cunhagem bimetálica de moedas, desenvolvendo uma cunhagem separada de ouro e prata. O nome de Creso e Lídia passaram a ser sinónimos de riqueza. Cerca de 550 a.C., o rei Creso financiou a construção do Templo de Ártemis em Éfeso, uma das Sete Maravilhas do Mundo.

Creso verificou o poder crescente da Pérsia, e começou a pensar em formas de travar o seu poderio. Segundo Heródoto, dando crédito ao oráculo de Delfos, ofereceu um grande sacrifício, e enviou mensageiros para inquirir o oráculo se deveria investir numa guerra contra os Persas. Em 550 a.C., os avanços do rei Persa Ciro II, ameaçaram seriamente o império Lídio. Creso aliou-se à Babilónia, Esparta e Egipto, e invadiu a Capadócia (no leste da Anatólia). Depois, foi para Sardes para preparar novo ataque. Em Sardes foi sitiado por Ciro, que o fez prisioneiro. Nessa altura, quando Creso foi derrotado por Ciro, em 546 a.C., o reino da Lídia tornou-se uma província do Império Persa. Segundo algumas narrativas, depois de derrotado, Creso terá sido condenado a morrer queimado numa fogueira, mas a intervenção do Deus Apolo tê-lo-á salvo. Outras narrativas associam-no à corte de Ciro, que lhe terá delegado o governo da região Média de Bareine.

A língua Lídia foi herdeira directa da língua Hitita, embora com muitas características próprias, nomeadamente ao nível da fonética e morfologia. A ciência linguística ainda não sabe muito sobre a língua Lídia, mas será obviamente Indo-Europeia, facto patente em muitas palavras com essa origem.