28.5.08

Importantes descobertas arqueológicas no Mar de Mármara

As obras para a construção do canal de Mármara, um túnel ferroviário que ligará daqui a alguns anos os dois lados de Istambul, na Turquia, permitiu a descoberta de achados de várias épocas históricas da antiga Constantinopla. Esses achados datam do Período Neolítico, Bizantino e Otomano e incluem, entre outros, um cemitério de navios do Período Bizantino, um porto do século IV e um troço de 50 metros das antigas fortificações de Constantinopla nunca antes encontradas.
Mais de 70 arqueólogos e 700 funcionários trabalham dia e noite nas escavações iniciadas há quatro anos.
"O projecto de Mármara é financiado por um único banco japonês preocupado com a preservação do património”, afirmou Aksel Tibet, citado pelo jornal “Le Monde”, arqueólogo do Instituto Francês de Estudos da Anatólia que participou num relatório dirigido à UNESCO com o objectivo de medir o impacto deste canal.
O director das escavações, Metin Gökçay, não sabe quando terminarão os trabalhos porque todos os dias surgem novos achados.
No local dos trabalhos podem ver-se os materiais exumados nos últimos dias: moedas, pedaços de cerâmica e de ossos empilhados em várias caixas. Os objectos são de seguida lavados, triados, identificados e finalmente classificados.

Um simpósio está a ser organizado por equipas de investigadores para apresentar os resultados destas escavações levadas a cabo desde 2004 e que vêm trazer uma nova abordagem sobre a história da actual Istambul. Entre as maiores descobertas destacam-se um vasto complexo de cerâmicas, em Sirkeci, no lado europeu, e uma capela bizantina mencionada nos textos antigos, em Üsküdar, no lado asiático. Mas o mais impressionante foi um porto de comércio importante, o “Eleutherion”, fundado no reinado de Teodósio I no século IV. “É um dos lugares arqueológicos náuticos mais importantes de todos os tempos”, afirmou James Delgado, do Instituto de Arqueologia Subaquática da Universidade do Texas, citado pelo "Le Monde". No local é possível observar-se a base de um farol, de um cais, uma igreja do século XII, assim como os restos de pelo menos 31 navios bizantinos, datados do século VI ao século XI. Gökçay estima que uma dezena de outras embarcações ainda se encontrem soterradas. "São o tipo de embarcação que só conhecíamos através de documentos”, precisou Aksel Tibet. No interior desses barcos foram encontradas dezenas de ânforas intactas, mercadorias de toda a espécie, sapatos, utensílios de cozinha, objectos que enriquecem consideravelmente o conhecimento da história da cidade. “Era um dos portos mais importantes da cidade. [A descoberta permite] um avanço na compreensão das ligações e dos recursos comerciais entre o Império Bizantino e o resto do mundo”, explica Gökçay. O objectivo é abrir um museu próximo do lugar para apresentar as descobertas.



A presença de um porto situado a mais de 400 metros da actual costa do mar de Mármara tem intrigado os geólogos. Segundo um desses estudiosos, Doğan Perinçek, o "Eleutherion" terá sido submergido por um ou dois tsunamis que engoliram navios e os seu carregamentos. Um cenário que poderá voltar a repetir-se, uma vez que a região de Istambul é atravessada por uma importante falha sísmica.

(Fonte: Público)